plastico, sempre a quebrar

[POESIA] POEMAS DE FEVEREIRO, MARÇO E ABRIL

É de grande tristeza que eu faço um post de três meses. Infelizmente e felizmente esses meses foram de muita ação. Coisas ruins, coisas maravilhosas e coisas ruins aconteceram e me impediram de escrever tanto... As vezes a vida da poeta é cheia de retalhos. Espero começar a escrever mais daqui pra frente, vou oficialmente fazer da arte meu ofício eu acho que é isso o que você gostaria. Atualizarei a página no final do mês.


20/02/25

Por uma hora o tempo sonha
com um pé na casa tristonha.
O verso percorre o moinho
e teus lábios em minha pele caminha.

O mar que traduz o tempo.
Outrora, se deu por vento.
Mas hoje entendo as coisas!
Tua mão me deixa tão piegas.

E esta estrofe vai permanecer fiel.
Toda minha poesia: um sonho inaudível.
E teu sorriso é tão doce quanto o mel.

Que coisa... As metáforas somem.
E a forma se vai,
e tua silhueta,
debaixo de minhas pálpebras
florescem como a luz do véu.


24/02/25

O esboço de tuas memórias
estilhaça em minhas mãos
só uma vertigem:
Outono.

Propuseram uma ida ao igarapé.
Um louvor dos descansantes
A água que desce entre os pés.
Busco aqui aquela outra reza.
Quantas larvas aqui habitam?
Aquelas que trazem o decompor do sol.
e sua última prece diurna.

Cremada.
tua mão se pôs por inteira.
As viúvas choram pelos pormenores.
Nossa culpa, hoje afável, perdura
e, de todas as mentiras, o véu
perdurou–O reluzir do mais belo
Anel.


31/03/25

A vida permite, outras horas.
O chacoalho do tempo
a pólvora debaixo das pálpebras.
Nada. O outono já vem
E tua mão,–lapidada por
Deus e chuva–
Está brilhando de saudades

Já não basta os versos:
sublimes e alheios.
A carnificina do tédio
o ínfimo pesar dos mortos.
Tuas mãos brilham por alguém.
E, apesar da dor que me causa.
O sol se foi,
as cantigas
e o resto da juventude.

Não se fazem mais rimas.
Outro caminho se deu doloroso
A tinta se contorce, o desejo
dissipado entre as linhas
das mãos que brilham
de tanta
verdade


09/04/2025

É igual às samambaias
os trejeitos de um amigo.
Uma cantiga solitária.

É igual aos Lírio
os ouvidos de uma tia
uma fumaça envergonhadinha.

E de todos os cortes,
tua alma permanece
una e retalhada.
Permanece,
com as mãos bem baixinhas
um som mundano
tolo e sagrado:
tua solidão.

É igual às margaridas.
os dejetos de uma refeição.
Uma dose de estradiol.

É uma calêndula.
Percorre teu corpo.
Infrutífero de verdades.
Trazendo consigo
mais uma
lembrança–
Desse outono.
Onde tudo parecia florir.
de nosso sorriso terroso.
do amor a germinar.

É como as rosas.
os desejos congelados.
uma mensagem esperançosa.


17/04/2025

Por onde caminham as samambaias?
outra coisa.
Conte-me de seus sonhos.

O período de amar lhe consome
e por todas as pegadas–
um respirar.
Perfura os nossos resquícios
o outro
já eterno
se diz mais uma vez por vencido.

Com quantos anos você aprendeu a andar? outra coisa.
Conte-me de seus sonhos.

Outra hora.
o período da manhã já é longo.
e como brilhava
a terna e cansada
efígie de nossas promessas
coisa alguma
Queria poder descrever.
o amorfo que faz tuas embaçadas vértebras.

E como você descobriu o petricor?
outra coisa.
Conte-me de seus medos.

Como uma andorinha
você libertou o verão.
Estava exausto,
suas têmporas fediam a solidão.
Como quiser.
O sol sempre espera.
E os pássaros sempre vão
e seu retorno é sempre amargo.

As vezes penso que me ouves.
outra coisa.
Conte-me de sua morte.

Sabe,
como o que permeia sempre é vivo.
Me diga, o que fortalece teus ossos?
Como consegues andar,
sua estrutura não está aqui.
Por onde anda
aqueles frutos podres
e suas belas flores.
Espero que bem...
Para que outro dia.
Venhas,
e me mostre uma canção
última vez
sua


22/04/25

Por engano,
Deus me deu seu rosto. dos mortais pecadores,
dos crisântemos timidos e
de tudo que é pagão:
Deus me deu seu rosto.

As vertentes de um guizo.
O Cânone transliterado por um olhar.
corroe as bochechas vermelhas do querubim.
Os lábios, incertos, cortam o luar.
Veementemente buscando teus restos carmesim.

O acidente ainda te define.
Tudo aquilo permeia as falhas da palavra.
A erosão da verdade que se definha.
Mais uma vez na gruta do silêncio.
O milagre se refaz.

Por engano,
Deus me deu seu rosto.


23/04/25

Desertadas, essas pessoas
caminhos derramados–
Por qual Lua
você veio?
(Irritantes são aqueles
morimbundos distantes da
alma que tanto peleja)
Traz aqui uma memória
muito distante
do destino–Por ti,
traçado em vão.

Pelos amigos
que passaram em vão.

Chega horas:
O coração desperta
O crisântemo do deixar
temo perder a cerne
das tuas palavras.
Não me deixas.
Temeraria é a noite
que enternece
o nosso vibrar.
Já não distante.
Renasce mais fraco
dentro desse corpo
Atrofiado. Além.


23/04/2024

A calêndula restante
respinga nos entreveros
momentos que você perdura.

O sol,
já visto por nós
me reluz
a mais pegajosa gota
de minha
hesitante
razão.

Me digas o que quer?
Buscarei sem hesitação
Tuas restantes palavras
Verdade ou bolor?
agora já é tarde.
o antepasto se desfez.
e a aurora é amarga
e nossos restos–
o mais libidinoso licor.

Penses no outono.
Como era doce a
tripa diluída.
A macabra ternura
de nossos dias.

Será que chegará?
A primavera, ou
o segundo outono, ou
a nossa
paixão.

Dos mais piegas poetas
surgem os versos
Azuis como a pele
verdes como o olhar e
rosas como
a calêndula
do amar.


26/04/25

A Paciência já não me basta.
É destroço compactado.
Tua firme mão
beija a têmpora.
Perdão.

É ouriço no mar.
Outra coisa dos santos.
Como o comunicar.
se perdeu na
una-centelha
do esquecer.

Trespassado pelos dedos
o encolher do pensar
já se foi, a solidão
e o lençol se expandem
todo o Mistério
de teus rastros
de um odor que eu já esqueci.
coberto por tua falta.

A coisa que entretêm
a todos: a palavra.
Saudade é fruto
da reza constante.

Somente a ti.
essas vertentes
de pés tão delicados
um anzol.

Eu te busco.
A certeza que serei.
A ultima confusão.

O rascunho se dissipa
e a última gota.
Aquela de ninguém.
Enfrenta mais uma travessia
e a ordem do natural se permanece intacta.

As vezes gostaria de me repetir.

E outra alma.
hoje desagua
sem os
dentes de ontem;
sorriu.
Amou
e se foi.


26/04/2024

O PIOR POEMA QUE JÁ ESCREVI.

pelas estrias abertas
o desenho de minha fíbula
a dor que nos permite
a carne que resta entre seus dentes.

Me consuma,
me desenhe com seus caninos.
Arranque-me as costelas.
Só deixe o coração!
a última rosa
que esconde toda nossa dor.

Não desistas de minha carne.
Minha carcaça, sempre sua.
Não desistas de minha carne.
Prometo regar-lhe todo dia.
Os olhos que me restam.
Eternamente virados em ti.

E a rosa que nos resta,
respira sem consciência de pulmões cheios de memória
se prolifera enquanto morre.
Este ciclo sem fim
permeia
a terra que nos consome.


29/04/25

E com três marés ou
o amor se foi.

Respinga pelos meus dedos
o odor de tua pele
exala aos montes
os espinhos das despedidas.

E de todas as vértices
teus dedos entrelaçam
o resquício
da minha singularidade
perpassada por nossa navalha.

Amor,
se aqui ainda posso chama-la assim.
Os sois que já se foram.
Entendas, estamos rodeadas pelo sagrado
E teus dedos-rosa
já estão dilacerados
pelas joaninhas-do-amanhã.
Meu bem,
A lua já não nos alcança
os deuses nos perdoaram
O rio, incerto, se encolhe
e teus desejos se fazem novos.

Acaricia minha pele
com teus dedos à decompor
Minta que o outono ainda é
Enquanto ainda existem.
Teu toque revive o Luar,
e, se Deus nos permitir,
por mais um dia
apodrecermos.