[POESIA] Poemas de Outubro
Bem, ser é difícil. Eu sinto que com o passar do tempo eu me torno mais incompreensível, venho falando cada vez mais abobrinha e me sinto menos e menos compreendida, mas talvez fosse isso que eu sempre desejava. Fora essas preocupações me vejo tranquila, aumentei a dose da minha medicação no dia que escrevo isso em 50%, tenho esperança pelo futuro e pela reconquista do meu desejo.
11/10/24
Tudo que me leva a ti, permeia.
Fui roubada de minha divinação.
Encolhida em tuas pequenas mãos.
O simpósio dos nossos perdões.
Tudo que me leva a ti, permeia.
Coisa tresloucada de tantos poréns.
Caminhei dentro de outros aléns.
Encalho nessa semântica que tens.
Tudo que me leva a ti, permeia.
O buraco mais fundo que o Mistério.
Teus crisântemos presos no ciclo da morte.
Tudo que me leva a ti, permeia.
O silêncio sem rastros do quieto.
Amor maior que o inefável vazio.
14/10/24
Um desviante mensageiro retorna:—
por ora entenderás o som
o eco do primeiro bronze
fugaz em minha pele.
Nasceu
em ti,
a última ternura.
Extirpa-me a pele Senhor.
pois o grão de humanidade se desfez
Ceifa-me do pôr-se Senhor.
pois a melodia da vontade urge à ressurgir
Derrama-me por aí Senhor.
pois as vertentes hão de desaguar
nos besouros por aí;
nos fungos a surgir
nas últimas metáforas que de minha boca sair.
O Declínio da Verdade começa pelo lampejo.
Uma alma ríspida inventou este destino.
E outro pajem morreu no caminho.
A boa viajante nunca retorna e nunca chega.
Amém.
16/10/24
Prezo pelas coisas inversas.
Ternuras soltas por aí.
Pois descanso às avessas.
Tornando-me tudo que perdi.
16/10/24
O augur complementa os anjos —
teu verso descompassado;
um soprar desperdiçado;
um amor desnaturado.
Outra visagem:
o interminável voo
de tua
calma.
Pois aqui se fez outra nuvem.
Inerte aos desejos. Portanto,
eterna. Queima os olhos de deus.
tua aposta nunca sacramentada
Bendita palavra por-dizer
a efêmera silhueta do Sol
dança entre meu dedo —;
a oscilante bênção do não-ser
Perdoa. Desfaz. Procria. Os deuses
definham.
Por um instante só
se faz.
Ao remendar os confins desse mundo:
o pequeno se desfez;
o traço se remoe;
o louco se conhece;
E tudo se remete ao por vir.
a abençoada noite mal sonhada,
a fúria do ansioso não-pensar,
a tua presa de ser.
28/10/24
Benevolente traçado da alma—
Embricado em
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀nossos dedos.
As juventudes
permeiam
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀a bruma.
⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Os deveres,
antes ditos,
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀jamais acatados.